di Vanessa Terra Pereira e José Euzébio de Oliveira Souza Aragão
As redes sociais são canais utilizados para propagar todo tipo de mensagem, escritas e de imagens (estáticas ou em movimento). Em especial o facebook, tem sido uma ferramenta de uma exposição extremada com momentos registrados com o celular e transmitidos sem qualquer discernimento, e em enorme rapidez. Existe uma exposição de opiniões, sentimentos, ideias e ideais, sem qualquer fundamentação e nem sempre com o filtro do bom senso, quer seja no campo político, nas questões que envolvam preconceito, no campo religioso, entre outros. Desta forma, faz-se oportuno refletir sobre essa exposição e uso da imagem de si nas redes sociais, seus reflexos e suas dimensões. Para isso, nosso trabalho, utilizará pesquisa bibliográfica sobre os principais assuntos que envolvem essa temática, inicialmente discutindo o que são as redes sociais e como têm sido utilizadas para manifestar imagens e opiniões. Numa segunda etapa abordaremos a questão da exposição e o espaço da consciência em publicações de conteúdo pessoal feitas por usuários das redes sociais, utilizando uma fanpage do facebook, intitulada “Empodere duas mulheres”, que relata o caso de uma campanha feita sobre o assédio das mulheres no esporte. No vídeo duas jornalistas são colocadas diante de homens escolhidos aleatoriamente, que tinham a missão de ler mensagens postadas em redes sociais sobre as mesmas. A partir da análise do vídeo foi possível verificar que as pessoas que escreveram os comentários, expuseram de forma preconceituosa e desrespeitosa suas percepções sobre as jornalistas. Questiona-se se as pessoas responsáveis por tais escritos teriam a mesma postura se estivessem na presença de suas vítimas e, em que se fundamentaram para agir assim. Conclui-se que a exposição de imagens e opiniões no facebook, ou em outras redes sociais, é algo que afeta a segurança das pessoas e de informações, além de atingir a honra e o respeito, sendo necessária a conscientização do real sentido de sua utilização.
1 INTRODUÇÃO
É cada dia mais crescente a interação de pessoas em sites de redes sociais, e isso tem produzido e influenciado diferentes formas de pensamento e comportamento nos usuários sobre assuntos e informações do cotidiano.
A tecnologia faz parte do cotidiano das pessoas que a utilizam de diferentes formas, e inclusive, como forma de manifestação do ser e estar, da demonstração de sua subjetividade, através da exposição de momentos e de situações particulares.
Os momentos e as situações ao serem expostas tornam-se passíveis de julgamentos. Há quem busque está exposição, mas também aqueles que são expostos sem que tenham consentido ou buscado essa exposição, neste caso as pessoas que participam de alguma forma da vida pública (celebridades, políticos, líderes, empresários, etc) que tem sua imagem exposta a todo o momento em vídeos, fotografias e memes1 causando impactos positivos ou negativos.
Neste contexto, as redes sociais são locais de disseminação de marcas, empresas, perfis, pessoas, pensamentos, ações e grupos. Como um canal importante justifica-se o interesse por entender a motivação por trás das principais interações dos usuários e seus comportamentos quando a utilizam.
Desta forma, este artigo tem como objetivo refletir sobre a exposição e uso da imagem de si nas redes sociais, seus reflexos e suas dimensões.
O caso escolhido para ser discutido neste artigo reflete a situação em que duas mulheres que atuam em um segmento predominamente masculiuno foram expostas ao julgamento de autores virtuais. Esse é apenas um caso diante de tantos outros que expostos frequentemente, casos de violência, preconceito, fanatismo, etc. As manifestações virtuais acabam suscitando casos reais, justificando a importância de se discutir este assunto.
2 CIBERESPAÇO E O ACESSO AS REDES SOCIAIS
Os primeiros computadores surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1945, e eram reservados aos militares para cálculos científicos, seu uso para fins civis deu-se a partir dos anos 60. Nos anos 70, incia-se o desenvolvimento e comercialização dos microprocessadores disparando processos econômicos e sociais, abrindo uma nova fase de automação, e possibilidades do uso do computador, inclusive para uso pessoal (LÉVY, 1999).
“O computador escapa progressivamente dos serviços de processamento de dados das grandes empresas para tornar-se um instrumento de criação, de organização e de diversão nos países desenvolvidos.” (LÉVY, 1999, p. 32).
O autor destaca que nos anos 80 a informática perdeu pouco a pouco seu status de atividade técnica ou de uso unicamente do setor industrial para começar a fundir-se com as telecomunicações, a editoração, o cinema e a televisão.
Nos anos 90 surge uma nova corrente cultural impondo um caminho ao desenvolvimento tecnoeconômico. As tecnologias digitais surgiram, como forma de infraestrutura do ciberespaço, novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também novo mercado da informação e do conhecimento.
O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas o universo de informações, mas os seres humanos que navegam e se alimentam desse universo (LÉVY, 1999).
O autor considerava que o ciberespeço resultaria em um movimento mundial de jovens ardorosos por experimentar novos e diferentes tipos de comunicação, e assim, haveria a necessidade de explorar as potencialidades desde espaço nos planos econômicos, políticos, culturais e sociais.
“Houve um tempo em que a comunicação e a troca de informações aconteciam somente na modalidade oral e mesmo sem existir uma linguagem oral estruturada, a comunicação acontecia. As experiências […] eram transmitidas aos seus pares, de geração a geração.” (CÔNSOLO FILHO, 2012, p. 279).
De acordo com Furlan e Marinho (2014) com o advento da internet, o cenário comunicacional sofreu uma enorme revolução apresentando à sociedade um método de interatividade completo que elimina as barreiras do espaço e do tempo.
O uso na internet possibilitou o acesso a diferentes tipos de informações, lugares e ainda a interação das pessoas através de redes sociais.
De acordo com Recuero (2005) o interesse no estudo de redes permeia todo o século XX, iniciado pelas ciências exatas que trouxeram contribuições e posteriormente foram absorvidas pela sociologia, na perspectiva da análise estrutural das redes sociais.
Na sociologia, a teoria dos grafos é uma das bases do estudo das redes sociais, ancorado na análise das estruturas sociais, partindo de duas grandes visões do objeto de estudo: as redes inteiras (whole networks) e as redes personalizadas (ego-centered networks), sendo o primeiro aspecto focado na relação estrutural da rede com o grupo social, o segundo centrada no papel social de um indivíduo poderia ser compreendido não apenas através dos grupos (redes) a que ele pertence, mas igualmente, através das posições que ele tem dentro dessas redes.
Segundo a autora em uma rede social, as pessoas são os nós e as arestas são constituídas pelos laços sociais gerados através da interação social.
O primeiro matemático a trabalhar sobre o conceito de redes foi Euler, por volta do século XVIII, e paralelamente, no campo da Sociologia, os conceitos sobre redes serviram de base para estudos aprofundados sobre as estruturas sociais. Um tempo depois esse conceito foi aplicado no âmbito da tecnologia, quando a criação da Internet e seus procedentes acarretaram no surgimento de uma grande gama de ferramentas online, dentre as quais muitas foram atribuídas para processos comunicacionais. A criação do sistema World Wide Web, ou simplesmente Web, possibilitou que qualquer pessoa pudesse estar presente em tempo integral na Internet, disponibilizando seus websites, textos, arquivos de imagem e som, entre outros, a qualquer outro computador no mundo que estivesse conectado no ambiente online (FURLAN; MARINHO, 2014).
Segundo Castells (1999, p. 188), “as redes são e serão os componentes fundamentais das organizações, pois são capazes de formar-se e expandir-se por todas as avenidas e becos da economia global”.
De acordo com Batista e Zago (2010, p. 129) com a proliferação dos sites de redes sociais, ambientes nos quais os atores sociais podem realizar trocas comunicativas mediadas pelo computador com seus contatos, cada vez mais se recorre a esses espaços em busca de recomendações de outros indivíduos – conhecidos, contatos, amigos, e até mesmo de desconhecidos – que exercem papel de influenciadores perante os demais usuários da rede. Passa-se a confiar na sabedoria da multidão ou em trocas interpessoais nas dinâmicas de tomada de decisão.
Farias, Ferreira e Patriota (2009) consideram que no Brasil, o que mais atrai os brasileiros para a virtualidade real são as redes sociais e a consequente oportunidade de interação dentro delas, servindo para conversar com pessoas, manter contatos, postar fotos criar conteúdos, falar sobre determinado produto, serviço ou propaganda, mas também, gerar mídia boca-a-boca ou “mouse-a-mouse” sobre uma infinidade de assuntos.
De acordo com Patrício e Gonçalves (2010): “O Facebook transformou-se não só num canal de comunicação e um destino para pessoas interessadas em procurar, partilhar ou aprender sobre determinado assunto […]”.
O facebook foi concebido em 2004 inicialmente, como uma rede de comunicação fechado entre os estudantes da Universidade de Harvard, expandido para outras universidades, colégios, redes corporativas e, público em geral. De acordo com Kirkpatrick (2011, p. 14): “Embora o facebook não tenha sido concebido como instrumento político, logo no início seus criadores perceberam que havia ali um potencial peculiar”, sendo possível encontrar algumas manifestações e protestos alimentados pelo facebook. Essas idéias expostas no facebook têm a capacidade de se espalhar pelos grupos e fazer com que um grande número de pessoas tome conhecimento de algo quase simultaneamente, propagando-se de uma pessoa para outra e para muitas com uma facilidade rara – como um vírus, ou um meme (KIRKPATRICK, 2011).
As redes sociais também abriram novos caminhos para marketing digital, sendo possível, por exemplo, a divulgação e ampliação de canais de produtos e serviços e a ampliação dos relacionamentos entre pessoas. Muitas empresas já enxergam esse canal como uma ferramenta importante para aumentar sua participação no mercado, expandir os canais de publicidade online, descobrir clientes potenciais, entender o que as pessoas pensam sobre sua marca, produto ou serviço, etc.
Diante do exposto fica claro que existem alguns benefícios no uso das redes sociais, como a praticidade, o entretenimento, o uso para fins comerciais e a forma rápida na informação, mas é possível também verificar alguns aspectos negativos tais como: uso inadequado de conteúdos que tragam conotações preconceituosas, temas e posicionamentos polêmicos, uso indevido imagens ou vídeos, que podem causar danos a terceiros, etc. Quando alguém compartilha, curti ou comenta algo na rede deve ter a dimensão de que isso vai ser visualizado por muitas pessoas, sendo amigos (seus próprios contatos), pessoas que nem sempre conhecemos.
3 A QUESTÃO DA EXPOSIÇÃO DA IMAGEM DE SI E O ESPAÇO DA CONSCIÊNCIA NAS REDES SOCIAIS
A imagem faz parte do cotidiano das pessoas, sejam elas materiais ou imateriais, e, para comunicar diferentes informações e podem apresentar diversos sentidos de interpretação.
Na publicidade ela é utilizada como uma prática social persuasiva utilizando-se de textos verbais e não verbais. Petermann (2006) considera o ser humano é alfabetizado para ler textos escritos, e posteriormente, interpretá-los, mas com relação aos textos não verbais não existe a exigência de alfabetizado, acreditando-se que a interpretação desses deva ocorrer de forma natural, sem interpretações e sem questionamentos.
O mundo da imagem de acordo com Santaella e Nöth (200, p. 15) se divide em dois domínios. O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais, o segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente. Os domínios estão ligados e não imagens como representações visuais que não tenham surgido de imagens na mente daqueles que a produziam, do mesmo modo que não há imagens mentais que não tenham alguma origem no mundo concreto dos objetos visuais.
De acordo com Sibilia (ano) a internet tem democratizado o acesso das pessoas ao mundo “de” e “das” celebridades, pois é como um outdoor, um espaço para todos.
Oreiro e Carvalho (2014) destacam que através do uso constante e maciço das redes sociais, as pessoas começaram mostrar parte de seus cotidianos e de suas vidas. Esse hábito de compartilhar e perpetuar momentos mais intímos já existia, mas era feito a através de álbuns e porta-retratos. Atualmente, através de aparelhos eletrônicos, as pessoas tiram e publicam fotos simultaneamente.
Mira (1998) considera que a exposição da vida pessoal, não se dá mais apenas na vida de pessoas famosas, mas sim das pessoas comuns.
Sibilia (2014) considera que os novos meios de comunicação têm permitido que qualquer pessoa desempenhasse os papeis de autor, narrador e personagem de si mesmo, para isso a privacidade tem se tornado um show destinado a um público potencialmente infinito. Há sempre alguém que assiste a tudo o que fazemos, sentimos e pensamos, até mesmo possuem conhecimento de nossas emoções mais triviais ou banais. Há sempre um espectador, um leitor, uma câmera, um olhar para o personagem.
A autora considera que a solidão era algo aceitável e até mesmo vital para a construção da identidade das pessoas, e isso era feito por meio de leitura e da escrita, de ficções e também das cartas e diários, como ferramentas muito úteis para construir estes modos de ser internalizado.
Hoje, porém, existe uma dificuldade de estar sozinho, o silêncio se tornou insuportável. As pessoas viraram personagens de suas vidas e percebe-se a proliferação de personagens nos perfis das redes sociais e que tudo em suas vidas deve acontecer sob os olhos ávidos de qualquer leitor, espectador, amigos e fãs (SIBILIA, 2014).
4 APECTOS METODOLÓGICOS E APRESENTAÇÃO DO CASO
Este estudo foi elaborado a partir de uma pesquisa com abordagem qualitativa, com levantamento bibliográfico, buscando subsídios para o melhor entendimento do assunto.
O caso escolhido para expor este pensamento é o de duas jornalistas Julie Dicaro e Sarah Spain, que tiveram a experiência de exposição, tão somente por causa da profissão que escolheram. As duas são jornalistas no segmento de esportes, campo este, ainda extremamente masculino.
Elas vivenciaram não só críticas, mas também ofensas sobre suas vidas através de alguns tweets que continham ofensas e comentários nada agradáveis.
O vídeo foi filmado e editado pela One Tree Forest, de Chicago, com direção de Chad Cooper, teve a iniciativa da equipe do podcast Just Not Sports e tem 4 minutos e de dezesseis segundos de duração. Ele foi inicialmente publicado no youtube, “#MoreThanMean – Women in Sports ‘Face’ Harassment”, no dia 25 de abril de 2016 (3.535.363 visualizaçãoese e 11.844 comentários), e ganhou repercussão quando postado no facebook.
A fanpage de onde o vídeo foi postado e retirado para este artigo foi o “Empodere Duas Mulheres”, uma página fundada em 2015 que discute a questão da luta das mulheres por espaço, direito a voz e fim da opressão. A postagem aconteceu no dia 25 de maio de 2016, e teve 1,8 milhões de visualizações, 36.703 compartilhamentos e 2.288 comentários até a data da submissão deste artigo.
Figura 1- Jornalistas Julie Dicaro e Sarah Spain
Fonte: YOUTUBE, 2016.
No vídeo, homens escolhidos aleatoriamente são colocados frente a frente com as jornalistas para que lessem os tweets escritos por outras pessoas. Eles expõem diversas opiniões de pessoas desconhecidas, pessoas que não convivem com elas, que não sabem profundamente de seus dramas pessoais, suas dores, sonhos e frustações. Essa superficialidade é um traço do comportamento daqueles que fazem os comentários, muitas vezes difamatórios e cruéis.
O vídeo começa, o lugar lembra um galpão, não é muito claro e que parece ser amplo, dois bancos estão vazios e estão um de frente para o outro. Os homens chegam ao local, um de cada vez, uma das jornalistas já está sentada, cumprimentam-se com uma saudação e um aperto de mão e sentam-se.
No começo, os homens olham diretamente para as jornalistas e alguns até sorriem, com os primeiros tweets, mas quando a leitura vai ficando com um tom mais pesado percebe-se que eles desviam o olhar, os sorrisos tornam-se forçados, talvez pelo constrangimento da situação. A figura 2 mostra algumas reações capturadas no víveo que demonstram o constrangimento durante a leitura dos tweets.
Figura 2 – Homens que fizeram a leitura dos tweets e suas reações
Fonte: YOUTUBE, 2016.
Os xingamentos são lidos já sem a mesma espontaneidade e a leitura torna-se visivelmente incômoda, isso por que existem pausas e movimentos que demonstram desconforto.
Alguns leem primeiro e depois pelas reações procuram uma forma de transmitir o que foi lido, como se tentassem minimizar as duras palavras. Isso pode ser interpretado pelo movimento que eles fazem com a cabeça de uma ação de negativa, pela forma como respiram fundo, franzem a testa, olham para cima e depois para baixo, fecham o sorriso retraindo a boca, etc.
Outro sinal de constrangimento é representado quando perguntam para uma pessoa que não aparece no vídeo, mas que se ouve a voz, provavelmente o diretor do vídeo, se eles realmente têm que ler o que está escrito.
Em algumas leituras, os homens terminam de ler e logo em seguida dizem sentir muito pelo que foi lido e pedem desculpas. As desculpas são pelo que foi falado diretamente a elas, desculpas em nome de outras pessoas, por terem que lidar com isso e um dos homens comenta que depois dessa experiência sentia-se na obrigação de pedir perdão a sua mãe.
Figura 3 – Frase escrita no vídeo
Fonte: YOUTUBE, 2016.
A frase “We wouldn’t say it to their faces. So let’s not type it”, que em portugês quer dizer “Nós não diríamos isso frente a frente. Então não vamos digitar também”, resume esse comportamento comum e crescente na internet, em que as pessoas escrevem sem pensar nas consequências, e outros que fazem uso de imagens e opiniões, com o intuito de denegrir, rotular, desclassificar pessoas, fatos, situações, profissões, acontecimentos, etc.
A autoria dessas ações pode ser recuperada, mas o estrago que estas produzem em outras pessoas, nem sempre.
No caso citado, as mulheres são vítimas de autores sem rosto, pessoas que com coragem sentenciam as mesmas a morte, ou desejam que sejam estupradas, espancadas, feridas fisicamente e moralmente. Percebem-se nos comentários lidos no vídeo que alguns autores se sentem ofendidos por estas mulheres ocuparem um lugar normalmente masculino, desacreditando que tenham potencialidades e qualidades para exercerem a função de comentaristas esportivas. O desejo desses autores é que as jornalistas sejam “mulheres”, considerando que para eles a visão de mulher é aquele que deva cuidar de casa e dos filhos.
No Brasil, existem muitos casos que expõem o uso da imagem de si e dos outros no facebook, como o caso do estupro coletivo, em que jovens filmam a cena de abuso, expõem a vítima e fazem questão de aparecer também, ou recentemente o caso das atletas Joana Maranhão (grande nadadora do Brasil que, quando pequena, sofreu abusos de um treinador) e Rafaela Silva (o primeiro ouro do Brasil nas Olimpíadas do Rio 2016) que foram atacadas e perseguidas com comentários maldosos quando não tiveram bom desempenho nas competições que participaram.
Uma campanha no Brasil intitulado “Ninguém Nasce Racista” produziu um efeito parecido, mas ao invés de homens adultos, escolheram crianças para que lessem comentários racistas para uma mulher negra. Algumas crianças se recusaram a ler e outras até choraram diante da experiência.
O Dossiê “Intolerâncias: visíveis e invisíveis no mundo digital”, em que durante três meses (abril a junho de 2016) – o Comunica Que Muda (CQM), monitorou dez tipos de intolerância nas redes sociais. Foram analisadas 393.284 menções sobre intolerância: em relação à aparência das pessoas, às suas classes sociais, às inúmeras deficiências, à homofobia, misoginia, política, idade/geração, racismo, religião e xenofobia. A intolerância de maior audiência é a política, talvez pelo contexto de crise que o país vem passando (quase 220 mil menções), à misoginia, aparece em segundo lugar, com 79.484 menções, a homofobia vem em terceiro com 53.126 menções e assim por diante. Em relação às menções negativas as intolerâncias mais sentidas são em relação ao racismo, que vem em primeiro lugar, política em segundo lugar, e as classes sociais em terceiro, entre as outras intolerâncias. A popularização das redes sociais projetou a amplificação dos discursos de ódio existentes no cotidiano. “O ambiente em rede, no entanto, dada a possibilidade de um pretenso anonimato e a confortável reclusão atrás da tela do computador, facilita que cada um solte seus demônios.” (AGÊNCIA NOVA SB, 2016, p. 14).
Considerações finais
O acesso às redes sociais é algo incorporado ao cotidiano das pessoas, seja pela velocidade na propagação de mensagens ou facilidade de acesso.
Os riscos do uso estão na forma como os usuários e autores se comportam nas redes sociais, em especial quanto ao uso indevido de informações, danos à imagem, à reputação das pessoas (sejam pessoas comuns ou conhecidas) e pela divulgação de conteúdos ofensivos.
É importante que assuntos como o descrito no caso, sejam levados a público para serem discutidos e não silenciados. Esses casos fazem com que outros sejam denunciados.
Conclui-se que a exposição de imagens e opiniões no facebook, ou em outras redes sociais, é algo que afeta a segurança das pessoas e de informações, além de atingir a honra e o respeito, sendo necessária a conscientização do real sentido de sua utilização.
Referências
AGÊNCIA NOVA SB. Intolerâncias: visíveis e invisíveis no mundo digital. Comunica que muda, 2016. Disponível em: http://www.comunicaquemuda.com.br/dossie/. Acesso em: 10 jun. 2016.
BATISTA, Jandré Corrêa; ZAGO, Gabriela da Silva. Ativismo em Redes Sociais Digitais: Os fluxos de comunicação no caso #forasarney. Estudos em Comunicação, n. 8, p. 129-146, dez. 2010.
BRESSAN JUNIOR, Mario Abel; FINGER, Cristiane Costa. A formação do laço social na TV e em sites de redes sociais: as hashtags Saramandaia e Donaredonda no processo de conversação em rede. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, Brasil, v. 41, n. 42, p. 124-144, dec. 2014. ISSN 2316-7114. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/significacao/article/view/83068/93457. Acesso em: 13 jul. 2016.
CASTELLS, M. A cultura da virtualidade real: a integração da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa e o surgimento de redes interativas. In: CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CÔNSOLO FILHO, Synesio. A comunicação política nas redes sociais em um contexto histórico social. Comunicação & Mercado, Dourados, v. 01, n. 02, p. 278-296, nov. 2012. Disponível em: www.unigran.br/mercado/paginas/arquivos/edicoes/1N2/24.pdf. Acesso em: 05 mar. 2014.
DAWKINS, Richard. O Gene Egoísta. (1979) Coleção O Homem e a Ciência, volume 7. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 2001.
FARIAS, Laryssa Emanuele Queiroz; FERREIRA, Marília Wanderley Pires; PATRIOTA, Karla Regina Macena Pereira. Redes sociais, buzz e propaganda. Como potencializar tudo isso? In: SIMPÓSIO NACIONAL ABCIBER, 3., 2009. Anais eletrônicos… São Paulo: ESPM/SP – Campus Prof. Francisco Gracioso, 2009. Disponível em:
http://www.abciber.com.br/simposio2009/trabalhos/anais/pdf/artigos/1_redes/eixo1_art30.pdf. Acesso em: 15 jul. 2014.
FURLAN, Bruna; MARINHO, Bruno. Redes sociais corporativas. São Paulo: Instituto Desenvolve TI, 2014. Disponível em: http://www.desenvolveti.com.br/docs/DesenvolveTI-EBookRedesSociaisCorporativas.pdf. Acesso em: 05 mar. 2014.
KIRKPATRICK, David. O efeito facebook: os bastidores da história da empresa que está conectando o mundo. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2011.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.
______. Inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 5. Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007.
PATRÍCIO, Maria Raquel; GONÇALVES, Vitor. Facebook: rede social educativa? In: Encontro Internacional TIC e Educação, 1., 2010. Disponível em: https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/3584/1/118.pdf. Acesso em: 04 dez. 2013.
PETERMANN, Juliana. Imagens na publicidade: significações e persuasão. UNIrevista, v. 1, n. 3, jul. 2006. Disponível em: http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Linguagem%20Visual/imagens_na_publicidade_siginificacoes_e_persUasao.pdf. Acesso em: 20 maio 2016.
RECUERO, Raquel . Redes Sociais na Internet: Considerações Iniciais. E Compós, v. 2, 2005. Disponível em: http://www.ufrgs.br/limc/PDFs/redes_sociais.pdf. Acesso em: 12 maio 2016.
SANTAELLA, Lucia; NÖTH, Winfried. Imagem: cognição, semiótica, mídia. 3. Ed. São Paulo: Iluminuras, 2001.
MARTINUZZO, José Antonio; REZENDE, Renata. Regime de opinião no cotidiano das redes sociais: uma análise do Facebook. Verso e Reverso, ano XXVIII, n. 69, p. 156-165, set./dez. 2014. Disponível em: file:///C:/Users/User/Downloads/8277-27474-1-PB.pdf. Acesso em: 13 jul 2016.
MIRA, Maria Celeste. Invasão de privacidade? Reflexões sobre a exposição da intimidade na mídia. Lugar Comum: Estudos de Mídia Cultura e Democracia, v. 5-6, p. 97-116, Rio de Janeiro, maio, 1998.
SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. 286 p.
SIBILIA, Paula. Redes sociales: la exhibición de los narradores solitários. Revista Cultura, nov. 2014. Disponível em: http://www.revistaenie.clarin.com/ideas/Redes-sociales-exhibicion-narradores-solitarios_0_1240675935.html. Acesso em: 09 jul. 2016.
SOUSA, Ícaro Joathan. Propor, torcer ou criticar: uma análise do comportamento dos eleitores no facebook nas eleições para prefeito de Fortaleza em 2012. In: INTERPROGRAMAS DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO DA FACULDADE CÁSPER LÍBERO, 10., 2015… Faculdade Cásper Líbero , 2015. Disponível em: http://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2015/01/%C3%8Dcaro-Joathan.UFC_.pdf . Acesso em: 13 jul. 2016.
YOUTUBE. MoreThanMean – Women in Sports ‘Face’ Harassment”. Disponível em: 2016https://www.youtube.com/watch?v=9tU-D-m2JY8. Acesso em: 25 abr. 2016.
_
Nota
1 Um ‘meme de idéia’ pode ser definido como uma entidade capaz de ser transmitida de um cérebro para outro. O meme da teoria de Darwin, portanto, é o fundamento essencial da idéia de que é compartilhado por todos os cérebros que a compreendem (DAWKINS, 2001, p.217-218).